Taxas de juros e alta do dólar: como ficam os investimentos

21/05/2024

Sabemos que as flutuações do dólar têm um impacto direto no mundo dos investimentos. Quando o real se deprecia em relação ao dólar, os investidores costumam redirecionar seus investimentos para ativos financeiros tidos como mais seguros. Alguns até optam por investimentos em dólar como uma forma de resguardar seu patrimônio da desvalorização da moeda nacional. Mas o que o atual cenário de alta do dólar significa?


O gráfico abaixo demonstra a trajetória do dólar comercial desde 2020. Embora nos últimos anos a moeda tenha atingido patamares elevados (como no início de 2022, quando chegou a R$ 5,63) desde janeiro de 2024 sofreu uma valorização de 5,67%.

O mercado está tenso devido ao receio de que as taxas de juros nos Estados Unidos possam permanecer elevadas por um período prolongado. Diante das possíveis alterações nos cortes de juros, juntamente com a tensão provocada pelas políticas do Federal Reserve (FED), as relações com a China e as incertezas políticas domésticas, há um aumento das incertezas de mercado. E incerteza significa volatilidade – e maior risco.

Na última quarta-feira (01/05) o banco central dos EUA anunciou a decisão de manter a taxa de juros entre 5,25% e 5,50% ao ano. Embora esperada, essa medida aumenta a pressão sobre os juros e o câmbio no Brasil. Os juros mais altos no exterior influenciam negativamente na redução dos juros aqui. A ação também desestimula os investidores em ativos de risco, especialmente em empresas ligadas à economia nacional, devido ao aumento do custo de capital e às expectativas pessimistas sobre a queda da Selic.

Em resumo, um aumento das taxas de juros tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos pode gerar volatilidade no mercado de ações e impactar o desempenho do Ibovespa, especialmente se isso indicar uma perspectiva de desaceleração econômica e menor atratividade relativa das ações em comparação a outros investimentos.

O gráfico abaixo ilustra o histórico das taxas de juros dos Treasury Bonds (T-Bonds), que são títulos de dívida emitidos pelo governo dos Estados Unidos para financiar suas operações e projetos. Com prazos de vencimento geralmente entre 10 e 30 anos, os T-Bonds pagam juros semestralmente até o vencimento, momento em que o investidor recebe o valor principal investido. Esses títulos são cruciais na determinação das taxas de juros em diversos mercados financeiros e exercem forte influência nos custos de empréstimos e investimentos em escala global.

Observa-se que, a partir de janeiro de 2020, as taxas dos títulos públicos norte-americanos têm aumentado consistentemente, alcançando seus picos em outubro de 2023, registrando 4,88% e 5,02% para títulos com prazos de vencimento de 10 e 30 anos, respectivamente. Durante o período de janeiro de 2020 até o início de maio de 2024, houve um incremento de 203% nas taxas dos T-Bonds de 10 anos e de 136% naqueles com vencimento em 30 anos.

Com o aumento das taxas de juros, investimentos de renda fixa se tornam mais atrativos em relação às ações, já que oferecem retornos mais altos com menor risco. Isso pode levar alguns investidores a realocarem seus recursos da bolsa para esses investimentos de menor volatilidade, causando uma pressão de venda no mercado de ações e, consequentemente, uma queda no Ibovespa.

Autora: Luciana Maia Campos Machado, Superintendente Acadêmica na FIPECAFI; Doutora em Finanças (FGV/EAESP); e Professora de Mestrado na FIPECAFI.

Fonte: Grana