Relatórios ESG pecam em dados e estão longe de futuras exigências

29/05/2024

Documentos divulgados ainda são genéricos e não trazem informações relevantes sobre riscos e impactos financeiros

A maioria das empresas que compõem o Ibovespa atualmente divulgam relatórios de sustentabilidade, mas os documentos atuais ainda são muito genéricos e estão distantes do material que será conhecido a partir da vigência das normas internacionais sobre o tema , que também vão vigorar no Brasil. Uma pesquisa da Universidade de São Paulo (USP) notou que falta, nos modelos atuais, comparabilidade e integração com os resultados financeiros, por exemplo.

De acordo com o levantamento, das 81 empresas que compunham o Ibovespa entre setembro e dezembro do ano passado, 78 divulgaram relatórios com informações relacionadas à sustentabilidade em 2022.

“Muitas das divulgações de sustentabilidade hoje não são usadas pelo mercado, são feitas mais no conceito de divulgação e marketing, e não com o intuito de vender ou comprar ações ou tomar crédito”, afirma o professor da USP responsável pelo levantamento, Fernando Murcia. As informações atuais são mais declaratórias e muitas vezes positivas, sem considerar riscos ambientais, sociais ou climáticos, por exemplo. Com as novas regras, a expectativa é que este cenário mude.

Segundo o especialista, as novas normas internacionais têm materialidade e relevância similares às dos balanços e demonstrações financeiras das empresas. “As informações dos relatórios de sustentabilidade vão ter que conversar com os balanços.”

O trabalho internacional vem ocorrendo desde 2021, quando a Fundação IFRS criou o Conselho Internacional de Padrões de Sustentabilidade (ISSB, na sigla em inglês), com o objetivo de desenvolver normas globais de divulgação sobre sustentabilidade, de forma similar ao que já acontece com as informações de natureza financeira, por meio do padrão contábil IFRS. Em 2023, foram divulgados os padrões inaugurais do ISSB, S1 e S2. A primeira trata de uma estrutura conceitual básica dos relatórios. A partir da segunda, as regras serão temáticas. A S2, já conhecida, começará pelo clima, e futuramente novas regras são esperadas pelo mercado, mas ainda não há definição.

No Brasil, os primeiros relatórios serão publicados a partir de 2025, de forma voluntária. De 2027 em diante, os documentos serão obrigatórios para companhias listadas nas categorias A e B, segundo as normas da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Atualmente, a resolução 59, que trata das regras do formulário de referência, prevê a divulgação voluntária de informações ESG (sigla para ambiental, social e de governança) pelas companhias abertas brasileiras no modelo “pratique ou explique”.

As informações dos relatórios de sustentabilidade vão ter que conversar com os balanços” — Fernando Murcia

“Apesar de as divulgações serem amplas e abordarem os mais diversos aspectos da sustentabilidade, parece haver um caminho a ser trilhado para a adoção das normas do ISSB no Brasil”, afirma Murcia, que também é professor da Fipecafi.

Com base nos relatórios atualmente divulgados, os principais temas sobre sustentabilidade divulgados pelas empresas são sobre saúde e segurança no trabalho, diversidade e inclusão, e mudanças climáticas. De acordo com o estudo, três empresas não consideraram os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) estabelecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU) na elaboração dos relatórios. Sobre as emissões dos gases de efeito estufa (GEE), 67 empresas realizaram o inventário completo, nove apenas para os escopos 1 (emissões diretas) e 2 (indiretas), e duas não mensuraram suas emissões.

Além disso, a maior parte das empresas analisadas apresentou divulgações sobre governança da sustentabilidade. Ainda que de forma genérica e distantes da norma IFRS S1, o conselho de administração das companhias foi o órgão mais citado como responsável pela supervisão dos riscos e oportunidades referentes ao tema.

Fonte: Valor Econômico