Com a inflação no teto, BC pode voltar a subir juros para segurar pressão
12/08/2024
"Hoje na condução da política monetária o Banco Central está patinando sobre gelo fino", diz Hudson Bessa, professor da FIPECAFI
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 0,38% em julho, superando as expectativas do mercado, que apontavam um aumento de 0,35%. Esse resultado levou a inflação acumulada em 12 meses para 4,50%, atingindo o teto da meta de inflação estabelecida pelo Banco Central (BC).
Esse cenário de alta ocorre em um momento crítico para a gestão da política monetária do país. Na ata da reunião do Copom, divulgada na terça-feira, 6 de agosto, o BC sinalizou que “não vai hesitar em elevar a taxa de juros se necessário para assegurar a convergência da inflação à meta”.
Hudson Bessa, professor de Finanças e Mercado Financeiro da FIPECAFI, alerta para a delicada situação enfrentada pelo BC. “Hoje na condução da política monetária o Banco Central está patinando sobre gelo fino. Qualquer coisa que saia um pouquinho fora das previsões ou das melhores previsões pode fazer estourar o teto da meta”, afirma. Bessa.
Com a inflação de serviços acumulada em 12 meses alcançando 5,01% e os preços de combustíveis e energia impulsionando o índice, a possibilidade de uma alta da Selic começa a ser cogitada entre os analistas, embora não haja consenso. Andréa Angelo, estrategista de inflação da Warren Investimentos, observa que a inflação de julho confirmou a esperada aceleração dos serviços subjacentes e projeta que o IPCA feche o ano em 4,40%, com 4,20% em 2025.
“Os serviços subjacentes vieram praticamente em linha com o esperado por nós, corroborando o que vínhamos alertando de aceleração deste grupo no 2º semestre do ano”, comenta. Angelo também menciona que “a janela de alívio da inflação de serviços subjacentes fechou” e prevê que os próximos movimentos continuarão sendo de aceleração.
André Colares, CEO da Smart House Investments, considera o resultado do IPCA como um sinal de alerta, destacando que o acumulado de 12 meses no teto da meta do BC pode pressionar a autoridade monetária a rever sua política. “O espaço para cortes na taxa de juros pode se tornar mais restrito, impactando tanto os consumidores quanto os investidores.
Para quem investe, é essencial monitorar de perto os desdobramentos dessa alta inflacionária e ajustar suas estratégias”, diz. Volnei Eyng, CEO da gestora Multiplike, reforça que o cenário de pressão inflacionária “pode afetar o poder de compra e os custos do dia a dia”. Segundo ele, “essa alta acima do esperado reforça a necessidade de monitoramento contínuo por parte do Banco Central”. Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research, também expressa preocupação com a pressão inflacionária sobre os preços dos serviços, que “continuam acima da meta”. Sung destaca que “a taxa de desemprego está no menor nível dos últimos 10 anos”, o que pode limitar a desaceleração dos preços nesse segmento.
Ele projeta que a inflação deve encerrar o ano em 4,20%, mas adverte: “Caso haja uma deterioração dos fundamentos econômicos, o Banco Central poderá não ter escolha e voltar a elevar a taxa de juros”. Jefferson Laatus, chefe-estrategista do Grupo Laatus, compartilha essa apreensão, especialmente com o fato de o acumulado de 12 meses estar no teto da banda do BC. “Isso começa a preocupar, e chama a atenção do mercado para uma possível alta de juros ou pelo menos para que o mercado comece a precificar uma possível alta de juros ainda para esse ano”, diz Laatus.
Em evento promovido pela Confebras em Brasília, o diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, indicado como possível futuro comandante do BC, reforçou a disposição da instituição em “fazer o que for preciso para manter a inflação na meta”. Ele afirmou que “está muito claro, ao colocar na ata, de maneira unânime, que todos os diretores estão dispostos a fazer aquilo que for necessário para perseguir a meta”.
André Fernandes, head de renda variável e sócio da A7 Capital, analisa que os dados de julho foram “basicamente em linha com o esperado pelo mercado”, com a variação de 0,38% próxima do consenso de 0,35%. Fernandes observa que, embora a difusão de preços tenha recuado para 47,41%, “o segmento de transportes foi o maior vilão, com alta de 1,82%, puxado pelos preços dos combustíveis”. Ele também destaca a desaceleração no segmento de alimentos em domicílio, que registrou uma queda de -1,51%, ajudando a “amenizar os impactos da tragédia no Rio Grande do Sul”.
Apesar de algumas apostas isoladas para uma alta da Selic, Fernandes acredita que “o consenso ainda é de manutenção da Selic em 2024”.
Fonte: Veja Negócios